O relato a seguir é de uma jovem vítima de abuso sexual pelo padrasto há cerca de dez anos atrás. Atualmente, aos dezoito anos, ela vive com a família, em Curitiba, e está concluíndo o ensino médio.
Para garantir a privacidade da vitíma a manteremos anônima.
- Como e quando os abusos começaram?
Vítima: "Eu não lembro exatamente, mas eu devia ter oito anos. Me lembro de acordar no sofá da sala sem minhas calças, o que achei muito estranho. Um tempo depois tive de ir ao médico pois sentia uma dor ao urinar.
Até então, eu não tinha ideia do que estava acontecendo. Mas depois o meu padrasto começou a abusar de mim".
- Após os abusos, ele lhe ameaçava? O que ele dizia?
Vítima: "Sim, ele dizia que se eu contasse para alguém, apanharia, ou que mataria a minha mãe".
- Para quem você contou sobre os abusos pela primeira vez? E depois de quanto tempo de silêncio?
Vítima: "A nossa família tinha uma empregda na época, que era muito amiga da minha família. Ela me disse que quando eu estava no sofá, viu o meu padrasto com a minha calça e achou aquilo muito estranho. Ela me perguntou se ele havia feito alguma coisa comigo. No início eu fiquei com medo de responder, mas acabei lhe contando a verdade, mas não recordo ao certo de quando foi isso.
Lembro que ela ficou muito revoltada e que contou tudo para a minha mãe".
- Você tinha medo dele? Sabia que o que ele fazia era errado?
Vítima: "Sim, eu sabia que era errado, mas não sabia o que fazer".
- Como a sua mãe ficou sabendo dos abusos e qual foi a reação dela?
Vítima: "Ela ficou sabendo pela empregada, que antes havia contado tudo para a minha irmã mais velha.
A minha mãe pegou uma cinta e pediu para eu lhe contar o que havia acontecido. Sempre que ela pegava o cinto, significava que ela queria saber a verdade, como se eu estivesse inventando ou mentindo.
A primeira reação dela foi chorar muito, depois ela me abraçou. Quando o meu padrasto chegou do trabalho, ela mandou que ele arrumasse suas coisas e fosse embora.
Minha mãe contou tudo para a irmã do meu padrasto, que ficou horrorizada. Depois, ela me levou para a delegacia para fazer a denúncia. Fomos a muitos lugares dais quais eu não lembro os nomes".
- O que aconteceu depois? Ele foi preso?
Vítima: "Ele foi preso sim. A minha mãe me dizia que ele nunca mais faria nada de ruim comigo, nem sequer chegar perto de mim, nem mesmo de seus próprios filhos - filhos dele com a mãe da vitíma -, que ainda eram bem pequenos".
- Como foi a sua vida e a da sua família após a prisão dele?
Vítima: "Apesar de tudo o que passei, era difícil para eu entender tudo aquilo que estava acontecendo, mas para a minha mãe e para os meus irmãos estava sendo ainda pior. A minha mãe teve que fechar a loja da qual era dona, deixando de pagar muitas contas de casa, e os meus irmãos sentiam muito falta do pai. Daí em diante a nossa vida só piorou.
Sem dinheiro para nos sustentar, a minha mãe me levou à delegacia para retirar a queixa contra ele, e assim eu fiz. Ele se desculpou pelo o que fez e voltou a morar conosco, já que ele era o único que podia pagar as contas".
- Você tem medo dele por você e pelas suas irmãs menores?
Vítima: "Hoje em dia eu não tenho mais medo, mas pelas as minhas irmãs sim. Eu tenho a impressão de que, a qualquer momento, ele tente fazer com elas o mesmo que fez comigo. Por causa disso eu sempre as alerto sobre ele, pedindo para que elas me contem sobre qualquer coisa estranha que ele venha a fazer".
- Como é a sua convivência com ele?
Vítima: "Hoje, eu já superei o que aconteceu. Penso que ele era doente, mas que agora já se curou, mas não é a mesma coisa. Eu costumo cumprimentá-lo com um bom dia, mas não passa disso; não chego nem a ficar muito tempo perto dele.
Eu nunca o verei como pai ou algo parecido. Tenho muitas mágoas. O tempo passa, mas as lembranças não me deixam esquecer o quanto eu sofri".
- A quanto tempo a sua mãe e ele estavam juntos quando os abusos começaram?
Vítima: "Eu acho que desde que meu pai biológico foi embora, quando eu tinha uns quatro anos.
- Você confiava nele? O amava como pai? O que sente por ele agora?
Vítima: "Não, porque o meu pai biológico me dizia que só existe um pai e que era ele, então eu não conseguia ter esse sentimento por outra pessoa. Agora eu sinto nojo, revolta quando penso que ele deixou marcas profundas na minha vida e que nunca se apagarão".
- Quais são os seus planos para o futuro?
Vítima: "Primeiro quero ter minha própria casa, deixando a minha antiga vida para trás. Depois pretendo casar com o meu namorado e constituir uma família".
- Como os abusos afetaram e afetam a sua vida? Você ainda pensa nas coisas que aconteceram com você?
Vítima:"Afetarm muito, pois por causa disso eu tinha muito medo de qualquer homem que se aproximasse de mim, temendo que eles tentassem fazer alguma maldade comigo. Mas agora isso mudou. Penso que nada que aconteceu foi por minha culpa.
Às vezes, eu queria ter ido embora com o meu pai biológico, porque sei que ele jamais faria algo de ruim comigo e que também não deixaria ninguém fazer isso.
Eu penso nisso sim, o que me deixa muito triste a ponto de ter vontade de chorar. Mas tudo já passou, e agora a minha vida tem sido muito abençoada por Deus".
Este foi o depoimento de muitas entre tantas vítimas de abuso sexual no nosso país. Diferente de tantos, ela teve a coragem de relatar sobre as coisas terríveis que lhe aconteceram.
Por infortúnios, a nossa vítima teve que desmentir o ocorrido, livrando seu agressor do prisão, mas agora, segundo ela, tudo está bem.
Muitas crianças sofrem caladas e com medo, sem ninguém para ampará-las. Elas não tem voz, e caso você conheça alguma delas, seja essa voz, denuncie.
Disque 100.
Criado para receber denúncias de exploração sexual contra crianças e adolescentes, o disque-denúncia acaba recebendo também denúncias de outros tipos de violência e até de crianças desaparecidas. As denúncias são encaminhadas aos órgãos competentes em até 24 horas. O serviço funciona das 8h às 22h, inclusive finais de semana e feriados. Como o próprio nome já diz, é só digitar 100 no seu telefone. A chamada é gratuita e você não precisa de identificar.
Inesc - Criança e Adolescente - Direitos e Políticas Públicas
http://protagonismojuvenil.inesc.org.br/controle-social/exerca-sua-cidadania/disque-100
Quem sou eu

- Abuso Sexual Infantil
- Alunos do Colégio Estadual Santa Cândida - Evelyn, Felipe e Tainara -,criamos este blog, com a supervisão da nossa professora de História,Cássia,onde abordaremos um assunto de extrema importância, o abuso sexual infântil.
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